sexta-feira, 15 de maio de 2009

AS ARMAS DOS VALENTES

No livro de 2 Samuel 23.8-22, lemos a respeito dos valentes que serviam ao rei Davi:
"Estes são os nomes dos valentes que Davi teve: Josebe-Bassebete, filho de Taquemoni, o principal dos capitães; este era Adino, o eznita, que se opusera a oitocentos e os feriu de uma vez. E, depois dele, Eleazar, filho de Dodô, filho de Aoí, entre os três valentes que estavam com Davi, quando provocaram os filisteus que ali se ajuntaram à peleja e quando de Israel os ho­mens subiram, este se levantou e feriu os filisteus, até lhe cansar a mão e ficar a mão pegada à espada; e, naquele dia, o SENHOR operou um grande livramento; e o povo voltou atrás dele somen­te a tomar o despojo. E, depois dele, Sama, filho de Agé, o hararita, quando os filisteus se ajuntaram numa multidão, onde havia um pedaço de terra cheio de lentilhas, e o povo fugira de diante dos filisteus. Este, pois, se pôs no meio daquele pedaço de terra, e o defendeu, e feriu os filisteus; e o SENHOR operou um grande livramento. Também três dos trinta cabeças desceram e vieram no tempo da sega a Davi, à caverna de Adulão; e a multidão dos filisteus acampara no vale dos Refains. Davi estava, então, num lugar forte, e a guarnição dos filisteus estava, então, em Belém.
E teve Davi desejo e disse: Quem me dera beber da água da cis­terna de Belém que está junto à porta! Então, aqueles três valen­tes romperam pelo arraial dos filisteus, e tiraram água da cister­na de Belém que está junto à porta, e a tomaram, e a trouxeram a Davi; porém ele não a quis beber, mas derramou-a perante o SE­NHOR. E disse: Guarda-me, ó SENHOR, de que tal faça; beberia eu o sangue dos homens que foram a risco da sua vida? De ma­neira que não a quis beber. Isso fizeram aqueles três valentes. Também Abisai, irmão de Joabe, filho de Zeruia, era cabeça de três; e este alçou a sua lança contra trezentos, e os feriu, e tinha nome entre os três. Porventura, este não era o mais nobre dentre estes três? Pois era o primeiro deles; porém aos primeiros três não chegou. Também Benaia, filho de [oiada, filho de um homem valoroso de Cabzeel, grande em obras, este feriu dois fortes leões de Moabe; e desceu ele e feriu um leão no meio de uma cova, no tempo da neve. Também este feriu um homem egípcio, homem de respeito; e na mão do egípcio havia uma lança, porém Benaia desceu a ele com um cajado, e arrancou a lança da mão do egíp­cio, e o matou com a sua própria lança. Estas coisas fez Benaia, filho de Joiada, pelo que teve nome entre os três valentes. Dentre os trinta, ele era o mais nobre, porém aos três primeiros não che­gou; e Davi o pôs sobre os seus guardas."
Há algumas observações interessantes que podemos fazer, quando lemos a história desses valentes:

1. Eles fazem coisas incomuns (v. 8)
Nessa passagem lemos que um dos valentes de Davi, de nome Josebe-Bassebete, feriu a 800 homens de uma vez!

2. Eles nunca fogem à luta (v. 11)
Aqui vemos Samá, um dos valentes que se opôs aos filisteus quando todo o povo fugira.

3. Eles lutam com as armas que têm (v. 21)
Esse é o ponto mais interessante que eu acho nesse texto, as armas com que os valentes lutam. Benaia, filho de Joiada, apenas com um simples cajado, enfrentou um egípcio que a Escritura diz que era de grande estatura e ainda estava armado com uma lança. A Bíblia diz que Benaia com aquele cajado arrancou a lan­ça da mão do egípcio e com ela o matou!
Às vezes, fico pensando que Benaia leva vantagem sobre nós. Benaia não possuía uma arma possante, mas sabia lutar; nós, ao contrário, possuímos armas poderosas (2 Co 10.3-5), mas não sa­bemos lutar. E por que não sabemos? Somos mal treinados. Espi­ritualmente, estamos com excesso de peso.

Alimentação sem exercício torna a pessoa obesa, preguiçosa e propensa a uma série de problemas físicos. O que é verdadeiro para o corpo físico também o é para o interior, a não ser que nos entreguemos ao exercício espiritual, o alimento que ingerimos provavelmente nos fará mais mal do que bem. Há muitos santos comendo muito e se exercitando pouco e é por isso que Paulo colocou juntos comida e exercício quando escreveu estas pala­vras a Timóteo: "Propondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Jesus Cristo, criado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido. Mas rejeita as fábulas profanas e de ve­lhas e exercita-te a ti mesmo em piedade. Porque o exercício corpo­ral para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir" (1 Tm 4.6-8).

[...] Houve um tempo na história da igreja que os cristãos se deleitavam em discutir a disciplina espiritual da vida cristã; mas, hoje em dia, qualquer coisa que cheire a disciplina é rotulada de "legalista" e estranha aos ensinamentos do Novo Testamento sobre a graça. Os cristãos contemporâneos não têm tempo para disciplinas espirituais como adoração, jejum, oração, meditação, auto-exame e confissão. Estamos muito ocupados, indo de uma reunião a outra, procurando atalhos seguros para a maturidade.'

Se quisermos ser um valente que não tombe na batalha, te­mos de levar a sério a nossa disciplina no manejo das armas espiri­tuais. Não há um plano B. Sempre fiquei fascinado com o testemu­nho de homens como Wesley, Finney, Moody, Spurgeon e outros.
Quanto mais sabia sobre esses homens, um elemento comum a todos eles parecia se destacar — todos foram homens disciplina­dos em suas práticas devocionais. Eram homens disciplinados na arte de orar. Precisamos orar, e orar com jejuns. Wiersbe já nos disse que muitos acham isso um legalismo, mas após examinar a Palavra de Deus e servir ao Senhor por vinte anos, não tenho mais dúvida de que não temos outra escolha.
O livro de Atos dos Apóstolos registra as seguintes pala­vras: "E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo"(13.2). Não há como negar que o jejum era uma pratica comum na igreja apostóli­ca. Aquela era uma igreja bem treinada, bem disciplinada es­piritualmente. Em Atos 14.23, lemos novamente: "E, havendo lhes por comum consentimento eleito anciãos em cada igreja, orando com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem havi­am crido" (grifo do autor). Orar com jejuns, conforme registra este texto, é o segredo da vitória.
Tempos atrás travei uma das maiores batalhas espirituais de minha vida por um período de seis meses estive em um conflito espiritual sem precedentes. No momento que eu parecia estar bem forte, foi quando Satanás disparou seus dardos contra mim. Aonde eu fosse ou onde estivesse, aquele problema como algo onipresente me acompanhava. Tentei todas as saídas que eu conhecia. Tudo em vão. Isso aconteceu antes da minha entrada para o ministério de tempo integral. No local de trabalho, os colegas percebiam que eu estava com uma espécie de depressão. Durante esse tempo todo eu continuava orando a Deus.
Certo dia, senti o Espírito Santo impulsionando-me para um jejum. Comecei então um período de cinco dias de jejum. Como ainda trabalhava no serviço público federal, fiz um jejum parcial. Abstinha-me do café da manhã e do almoço, jantando quando chegava em casa. Aquela semana pareceu longa, tamanha era a intensidade do conflito. Todavia, no meu interior senti paz, percebia que a batalha estava sendo ganha. Não tive visão, sonho ou revelação nos primeiros dias do meu jejum, mas quando estava no último dia, já encerrando aquele propósito, acordei às 5h30min da manhã. Ouvi uma voz me chamando, consegui identificar aquela voz, pertencia a uma das minhas irmãs. Já conhecendo a história de Samuel registrada no capítulo três de seu primeiro livro, discerni que era o Senhor quem me chamara.
Levantei-me, acendi a luz e caminhei em direção à bibliote­ca. No meu interior, algo parecia dizer-me: "leia o Salmo 24". Sen­tado na cadeira, com a Bíblia aberta sobre a escrivaninha, come­cei a ler a Palavra de Deus. Quando cheguei ao versículo 8 que diz: "Quem é o Rei da Glória? O Senhor, forte e poderoso, o Se­nhor poderoso nas batalhas" (ARA), as palavras poderoso nas ba­talhas, se destacaram. Tive a sensação de que o Senhor era quem estava lutando por mim. Ouvi nitidamente o Senhor falando co­migo: "não precisa mais se preocupar com isso, eu vim livrar você, você está livre". Estas palavras foram fortes demais para mim, comecei a chorar copiosamente. O Senhor havia me libertado, eu estava de fato livre. Muitos anos já se passaram e continuo livre. Às vezes, tento me lembrar daquele problema, mas é como se ele nunca tivesse existido. Aleluia!
Ainda bem cedo na minha vida cristã, tive contato com um amado irmão (hoje pastor) que me introduziu a prática do jejum. Certo dia, ele convidou a mim e a outro irmão para irmos orar em um sítio de sua avó. Chegando ali, recolheu algumas limas (um tipo de laranja bem doce) e falou-nos: "Vamos ficar o dia todo aqui oran­do, lendo a Bíblia e nos alimentado somente do líquido dessas la­ranjas". Assim fizemos; primeiramente lemos o livro de Provérbios e partimos para um período de oração. Foi naquele dia, dez anos antes de entrar para o ministério de tempo integral, que recebi a confirmação no meu interior de que o Senhor me chamaria para sua obra. Isso de fato aconteceu. É bíblico orar com jejuns.

Uma das razões de o jejum ser eficaz é que há uma sutil relação entre o físico e o espiritual. Quando o corpo é disciplinado, como durante o perí­odo de jejum, o Espírito Santo tem a liberdade de esclarecer a mente e purificar as intenções, tornando nossa oração e meditação muito mais poderosa. Ele pode usar períodos de jejum para santificar a nossa vida e glorificar ao Senhor.2

O jejum, no entanto, não deve ser usado com fins legalistas, procurando aquele que jejua transparecer mais espiritualidade do que os outros. Alguém já disse que o jejum não muda a Deus, Ele será o mesmo antes, durante e depois do jejum. O jejum muda aquele que jejua. Quebranta a nossa carne e deixa-nos mais sen­síveis para as coisas do Espírito de Deus. J. I. Packer, um renomado cristão puritano, diz:

Mas o ascetismo - abstinência voluntária, auto-privação e austerida­de extrema - não é a mesma coisa que santidade, apesar de algumas formas de ascetismo fazer parte da vida de uma pessoa santa. Nem o formalismo - no sentido de uma intensa conformidade em atos e palavras com os padrões que Deus estabeleceu - pode ser confundi­do com a santidade, ainda que possamos assegurar que não há san­tidade sem essa conformidade.3

Em tempos recentes, a igreja tem sido despertada para essa prática que andava esquecida. Louvemos a Deus por isso.